Imagem: Penacova Online

Em uma primeira análise parece difícil associar a existência dos livros como conhecemos hoje, com a peste negra. Considerando um momento em que a população havia sido dizimada, as famílias precisavam (e muito!) da participação dos filhos para que elas se reestabelecessem e voltassem a ter uma vida normal. Diante disso, as instituições religiosas demoraram ainda mais tempo para se reestabelecerem, já que muitos padres e freiras morreram, e as famílias não entregavam mais seus filhos para o clero, pois precisavam deles em suas casas. Nesse contexto estabelece-se a ligação entre a peste negra e a existência do livro, já que a ausência de copistas precisava ser solucionada.
Naquele período histórico, a forma existente para se obter uma cópia de um livro era através do trabalho manual dos monges copistas. Com os monastérios às moscas, a reprodução dos livros era extremamente lenta e cara, já que a obtenção dos materiais necessários era difícil e trabalhosa. Não se pode deixar passar o fato de que todo livro passava, antes de tudo, pelas mãos de um monge copista, ou seja, pelas mãos da Igreja Católica que, por sua vez, só permitia cópias de livros que satisfizessem os seus interesses.
Em 1451 Gutemberg surgiu para mudar radicalmente essa realidade. Com a invenção da prensa com tipos móveis a produção de cópias foi otimizada e barateada. A disseminação de obras já não dependia mais dos monges copistas. Surge, então, um grande problema para a Igreja Católica: os livros não estavam mais dentro do seu controle, dessa forma, qualquer texto seria publicado, mesmo que não estivesse de acordo com os preceitos religiosos.
Desesperada para voltar a ter controle sobre as informações que circulavam, a Igreja Católica solicitava algum tipo de legislação que proibisse as gráficas e livrarias que já se espalhavam pela Europa. Atendendo às solicitações, em 1535 na França, foi promulgada uma lei que tornava ilegais as livrarias e as gráficas. Aqui entra em cena a literatura pirata, pois com a proibição das gráficas na França, elas se instalaram nas vizinhanças e a torrente de produções literárias não cessou, para o desespero da Igreja.

por Maria Julia Comarim